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A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA

2020, III. 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES

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Caetano, Maria Teresa. “A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA.” III. 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES, 2020.

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Caetano, M. T. (2020). A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA. III. 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES.

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Caetano, Maria Teresa. “A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA.” III. 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES, 2020.

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Caetano MT. A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA. III 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES. 2020;

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Caetano, M. T. (2020) “A ARGÊNTEA TAÇA DE TRÓIA: PERCURSOS E VICISSITUDESDE UMA PEÇA ICÓNICA DA ARQUEOLOGIA PORTUGUESA,” III. 'RESGATAR MEMÓRIAS' -SÍTIOS, TERRITÓRIOS E COMUNIDADES.

Abstract

RESUMO: A taça de prata descoberta ao acaso, em 1814, nas dunas do amplo areal então identificado como sendo a antiga cidade de Cetóbriga, depressa se tornou num objecto de grande interesse. Primeiramente na posse de D. Rodrigo de Lencastre, à data governador da praça-forte e porto de Setúbal, foi comprada aos seus herdeiros por D. Pedro de Sousa Holstein, 1.º Duque de Palmela e presidente vitalício da Sociedade Archeologica Lusitana, cujo pressuposto era o de escavar a cidade soterrada nas dunas do extenso areal. Em 1850, Gama Xaro publicou o primeiro volume dos Annaes, onde deu à estampa os desenhos da peça, entretanto adquirida pelo Duque de Palmela, que viria a ofertá-la a D. FernandoII. Ao longo do século XIX encontram-se diversas e, por vezes, controversas afirmações sobre a peça e, sobretudo, acerca da sua localização que se foi esmorecendo com o tempo e, já no século XX – esporadicamente lembrada – foi dada como perdida, todavia, a nossa investigação foi fundamental para a sua “redescoberta” no Paço Ducal de Vila Viçosa, atualmente Museu-Biblioteca da Casa de Bragança. ABSTRACT: The silver bowl discovered in 1814, on the dunes, as luck would have it, of a wide sandy shore then identified as the ancient city of Caetobriga, quickly became an object of great interest. Initially in the possession of D. Rodrigo ofLencastre, governor, at the time, of the stronghold and port of Setúbal, the bowl was later on purchased from his heirs, by D. Pedro de Sousa Holstein, 1st Duke of Palmela and lifelong president of the Lusitanian Archaeological Society, who had intended to excavate the city buried in the dunes of the extensive sandy shore. In 1850, Gama Xaro published the first volume of Annaes, where he printed the drawings of the piece, meanwhile acquired by the Duke of Palmela, who would later present it to D. Fernando II. But throughout the 19th century, there were several and sometimes controversial statements about the piece and, above all, about its location, that was fading over time and already in the 20th century the bowl – sporadically remembered – was considered lost; nonetheless, our investigation was pivotal for its “rediscovery” at the Paço Ducal de Vila Viçosa, nowadays house of the Museum-Library of the House of Braganza.

DOSSIER TAÇA DE TRÓIA

©Alexandre Vaz ©TróiaResort A taça de prata descoberta ao acaso, em 1814, nas dunas do amplo areal então identificado como sendo a antiga cidade de Cetóbriga, depressa se tornou num objecto de grande interesse. Primeiramente na posse de D. Rodrigo de Lencastre, à data governador da praça-forte e porto de Setúbal, foi comprada aos seus herdeiros por D. Pedro de Sousa Holstein, 1.º Duque de Palmela e presidente vitalício da Sociedade Archeologica Lusitana, cujo pressuposto era o de escavar a cidade soterrada nas dunas do extenso areal. Em 1850, Gama Xaro publicou o primeiro volume dos Annaes, onde deu à estampa os desenhos da peça, entretanto adquirida pelo Duque de Palmela, que viria a ofertá-la a D. Fernando II. Ao longo do século XIX encontram-se diversas e, por vezes, controversas afirmações sobre a peça e, sobretudo, acerca da sua localização que se foi esmorecendo com o tempo e, já no século XX -esporadicamente lembrada -foi dada como perdida, todavia, a nossa investigação foi fundamental para a sua

Breve nota introdutória

Não pretendemos alcandorar o presente texto na historiografia da Sociedade Archeologica Lusitana e no seu inestimável mérito, por ter sido a primeira agremiação do género fundada em Portugal, em pleno Romantismo. Até porque tem sido amplamente estudada, dentre os quais destacamos, a título exemplar, os trabalhos de Montalvão Machado (1962), de Fernando Castelo Branco (1963), de Carlos Fabião (1997), de João Luís Cardoso (2014 e 2018) e de Ana Cristina Martins (2003Martins ( -2005Martins ( e 2014. A esse propósito, também nós intentámos uma síntese que surgiu na sequência do desafio que Vitor Serrão, amigo de longa data, nos lançou para escrevermos um artigo sobre D. Fernando II e a arqueologia, aquando da celebração do segundo centenário do seu nascimento. Texto que foi dado à estampa na revista Al-madam on line, em Janeiro de 2017, sob o título «O rei D. Fernando II e a arqueologia portuguesa: mecenato régio e associativismo patrimonial» (II Série, n.º 21, tomo 2), no qual publicámos documentação, então inédita, conservada nos arquivos distritais de Setúbal e de Évora.

Face ao exposto e, respondendo agora ao convite de Maria de Jesus Monge para integrarmos uma publicação do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, em suporte digital, na qual se pretende incluir um Dossier da Taça de Tróia, optámos por historiar os seus percursos e vicissitudes, baseando--nos o mais exaustivamente possível, no presente enquadramento, quer em fontes primárias (já publicadas), quer secundárias, desde o seu achamento fortuito, em 1814, até ao 'descaminho' da peça no afã decorrente da implantação do regime republicano (percurso este, devidamente sustentado no detalhado artigo de Mónica Rolo, publicado em 2018). Isto, sem escamotear o longo olvido que sobre ela perpassou durante mais um século, aquele que -com base na releitura das fontes impressas oitocentistas -, acabaria por lhe atribuir um carácter 'icónico' no contexto da arqueologia nacional. E, finalmente, a linha de pensamento que nos norteou aquando da citada investigação, possibilitando, finalmente a sua 'redescoberta' , em Dezembro de 2017, nas reservas do Palácio de Vila Viçosa, onde permanecia, todavia incorrectamente classificada.

Da descoberta ao esquecimento

Em 1838, Jose Verea y Aguiar (1775-1849), na Historia de Galicia. Primeira Parte, que compreende los origines y estado de los pueblos septentoriales y occidentales de la España antes de su conquista por los Romanos, referiu-se à descoberta, em 1814, de várias antigualhas e jóias nas ruínas de Tróia (de entre as quais se pressente a argêntea taça), classificando-as como sendo de origem fenícia, e atribuindo a sua propriedade aos herdeiros do governador da praça-forte e porto de Setúbal 1 , pressupondo-se, assim, que aqueles objectos haviam estado na posse de D. (Lichnowsky, 1844, pp. 116-117).

Em 1850, foi dado à estampa o primeiro volume dos Annaes da Sociedade Archeologica Lusitana, redigido por Manuel da Gama Xaro, classificandocontrariamente a Verea y Aguilar -a "pátera" como sendo de fábrica romana, da qual publicou minuciosos desenhos. Desenhos que Mónica Rolo, com base em documentação inédita entretanto identificada no Arquivo Histórico da Casa de Bragança, designadamente uma "nota anónima", atribuiu condicionalmente a António Ribeiro dos Santos (1745-1818, apontando como datas extremas para a sua execução 1814 e 1818. E foi neste último ano que morreram o desenhador e o governador de Setúbal, podendo deduzir--se que as imagens foram produzidas quando as antigualhas estavam ainda na posse de D. Rodrigo Lencastre. Através da análise comparativa, aquela 2 À semelhança de muitos viajantes estrangeiros, o vienense Príncipe Felix Lichnowsky legou-nos o inevitável relato das suas excursões pelo país, pois, como o próprio esclareceu era sua "intenção percorrer o interior de Portugal, e não me limitar unicamente a observar Lisboa, Cintra, e quando muito Mafra, como o fizeram alguns viajantes modernos, aos quaes pareceram muito penosas as excursões de maior alcance" (Lichnowsky, 1844, p. 105). investigadora concluiu também que, a tal nota anónima, foi redigida pela pena de Manuel da Gama Xaro (Rolo, 2018, p. 248, n. 3). Na verdade, o clérigo descreveu a "pátera", num capítulo inteiramente dedicado à peça, intitulado «Explicação de uma taça de prata de artificio romano, achada nas ruinas da antiga Cetóbriga no anno de 1814, e existente na casa do ex. mo sr. o duque de Palmela» (Xaro, 1850, p. 4), intervalando a sua apreciação com abundantes referências e citações de autores clássicos, justificando, assim, o seu cariz ritual: D. Pedro de Sousa Holstein, homem "illustrado e generoso protector das sciencias e das artes" (Estatutos, 1850, p. 9), foi nomeado, a título vitalício, presidente da Sociedade Archeologica Lusitana, legalmente constituída por alvará de 27 de Março de 1850 (Caetano, 2017, p. 56 Os primordiais intentos da novel sociedade eram a escavação e estudo das estruturas e objectos que fossem encontrados em Tróia, à altura, identificada como sendo a cidade romana de Cetóbriga. Os trabalhos arqueológicos, por falência da Sociedade, acabariam por ser interrompidos, pois, o "princípio do fim da SAL ocorreu a 4 de Outubro de 1857, com a eleição da nova direcção" (Martins, 2014, p. 209), tendo-se suspendido, definitivamente, os trabalhos, tal como narrou, em 1866, Hans Cristian Andersen aquando da sua visita a Tróia:

Uma grande escavação fora começada e voltou a ser interrompida por falta de financiamento. A exploração não fora muito longe, mas podiam ver-se os alicerces das casas, vários alens de muralhas e restos de toda uma rua. Nesta havia um balneário bastante bem conservado, o chão de mosaico e as paredes com placas de mármore. Até bastante longe, debaixo de água, há fragmentos de vasos antigos e pedras de grandes muros, também se podendo encontrar moedas de outros tempos (Andersen, 1984, p. 61 Constata-se, pois, através da leitura desta epístola que D. Fernando II estava, não só entusiasmado com a fundação da Sociedade Arqueológica Lusitana, dotando-a de uma avultada doação pecuniária com o objectivo de promover as escavações arqueológicas das ruínas de Tróia, mas estava também deveras interessado na "pátera". E, nesse sentido, o 1.º Duque de Palmela ter-lhe-á feito chegar, para além dos desenhos (que, supomos, possa ter adquirido juntamente com a taça), uma réplica em gesso relevada e pintada (Caetano, 2017, p. 58). Na aludida missiva afigura-se clara a intenção de Rei em enviá-la ao erudito académico e lente da Universidade de Viena, Friedrich Daniel Shimko (1796-1867), para estudo. Isto, com o possível intuito de esclarecer a dupla atribuição civilizacional e cronológica -fenícia, para Verea y Aguilar, e romana, para Gama Xaro -, desconhecendo-se, no entanto, qual foi o parecer do eslovaco, se realmente se pronunciou acerca do objecto. Até porque, na tal "nota anónima", publicada por Mónica Rolo, afirma-se ainda que outras réplicas foram remetidas a "antiquarios de paizes estrangeiros nenhuma solução deram acerca da epocha e do usos a que fôra aplicado" (in Rolo, 2018, p. 248). Mas, sabe-se, hoje, de acordo com a apreciação de Virgílio Hipólito Correia, que se trata afinal de uma taça xenia, neste caso concreto, representando alimentos do mar e da terra 3 , cujo propósito pretendia, em simultâneo, honrar os convidados e realçar a abnegação do senhor da casa (acerca desta matéria vide Bustamante, 2014 (Ribeiro, 1879, p. 306 (Ribeiro, 1879, p. 306).

Todavia, a nota de rodapé de Silvestre Ribeiro, acaso, revelará alguma iniquidade, porquanto acrescentou insidiosa afirmação acerca da taça de prata se encontrar na casa do Duque de Palmela: "o que algum dia se explicará". Através da leitura do texto da Historia dos Estabelecimentos Scientificos, Literarios e Artisticos..., constatou-se, pois, que o seu autor se cingiu, grosso modo, a 'copiar' informação anterior. Isto sem ter efectuado qualquer exegese crítica aos textos que suportaram o capítulo dedicado à Sociedade Arqueológica Lusitana. Revelando, deste modo, o seu desconhecimento coevo acerca do paradeiro da taça de Tróia, porquanto, quase três décadas após a publicação do texto em que se baseou, assentiu que a dúvida se instalasse nos investigadores sucedâneos, sobretudo ao longo do século XX, ao ponto de se ter dado, como definitivamente perdido, aquele objecto de prata.

No ano seguinte, Augusto de Azevedo Barbosa de Pinho Leal (1816-1884 Pinho Leal incorreu em equívoco ao ter afirmado que a "patera" ficou na posse do Marquez de Palmela, pai do primeiro Duque do mesmo título. Isto porque se sabe que, o título de Duque, de juro e herdade, foi recebido em 1833, por D. Pedro de Sousa e Holstein, primeiro presidente da Sociedade Arqueológica Lusitana, que tinha sido sucessivamente, Conde de Palmela (1812) e Marquez, em 1823 (inventarq.fcsh.unl.pt). E poderá muito bem ter sido esta confusão, que levou Ana Catarina Martins a ter afirmado que a taça se encontrava "na posse do futuro 2.º Duque de Palmela (1818-1864), filho do Presidente inicial da Sociedade Arqueológica Lusitana (SAL)" (Martins, 2003(Martins, -2005idem, 2014, p. 207).

Nesse mesmo ano de 1880, a propósito do IX Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-históricas que decorreu em Lisboa durante o mês de Setembro, o Diario Illustrado publicou, ao longo de três números (18, 19 e 20 de Outubro), extenso artigo na rúbrica «Atravez da Imprensa -As ruinas de Cetobriga», dando conta, logo no primeiro parágrafo, a "estranheza pelo facto dos membros do congresso archeologico, ultimamente reunido na capital portugueza, não fossem convidados a visitar as ruinas de Cetobriga" e, ao longo das duas edições subsequentes, alargou-se o texto à história de Setúbal sem, todavia, ter obliterado novas referências a Tróia. Ainda assim, "D. Pedro V (1837-1861) visitou as escavações com o iminente investigador alemão Emil Hübner (1824-1901)" (Martins, 2014, p. 209).

Designadamente, na terceira e última parte desta extensa notícia, na qual, para além mencionar a infrutífera solicitação da Câmara Municipal de Setúbal, em 1872, para que o governo promovesse os trabalhos de escavação, foi apresentado o rol dos objectos recolhidos na breve intervenção da Sociedade anonyma das investigações archeologicas de Cetobriga, uma sociedade francesa, fundada em 1875, cujo propósito último seria a exploração arqueológica e comercial. Neste texto anónimo foi igualmente recordada a Sociedade Arqueológica Lusitana, cujo acervo reunido acabou disperso pelos membros da extinta agremiação, tendo sido, mais tarde, integrado na Academia de Bellas-Artes e Archeologia de Lisboa (Fabião, 1997, p. 114) -, e nova alusão à taça de prata com lavores relevados:

Em outras excavações, realisadas em 1814, achou-se um caixão que encerrava um cadáver, o qual se desfez em pó tanto que lhe deu o ar; bem como uma lâmpada, um castiçal e uma patera ou vaso que servia nos sacrifícios, tudo de prata, sendo que este ultimo objecto veio a pertencer ao falecido duque de Palmela pertencendo os outros, segundo nos indicam os Annaes da sociedade archeologica lusitana, aos herdeiros do general D. Rodrigo de Lancastro, então governador de Setubal (Diario Illustrado, 20 de Outubro de 1880).

A descrição do achamento da peça em questão, acrescentando-lhe, talvez uma concupiscência do gótico vitoriano replicada de Pinho Leal, também se encontra mencionado, no artigo daquele jornal, um cadáver que "se desfez em pó". Para além de evidenciar que, então, já se perdera na memória do tempo a localização da taça, tal como se encontra expresso no Diccionario, o Duque de Palmela ou os herdeiros do governador de Setúbal, de facto pertenceu a todos eles, e, como adiante veremos, também a D. Fernando II.

Em 1896, João Carlos d'Almeida Carvalho (1817Carvalho ( -1897, que fora membro fundador da extinta agremiação setubalense, escreveu um artigo intitulado «A Sociedade Archeologica Lusitana -As antiguidades extrahidas das ruinas de Troia, e onde é que se acham depositadas» (publicado no n.º 5, pp. 70-75 e nos n.os 6-7, pp. 82-92, do Boletim de Architectura e Archeologia, 3.ª série, tomo VII). As primeiras páginas do referido texto constituem encomiástico panegírico ao 1.º Duque de Palmela e acerca do ambiente festivo aquando da sua recepção em Setúbal, no ano de 1849. Informando, depois, que os acervos, documental e arqueológico resultante das escavações em Tróia foram, em 1868, por si confiados à Academia Real das Bellas Artes de Lisboa, que, à altura, tinha como vice-inspector o Marquês de Sousa Holstein (1838-1878), 13.º filho de D. Pedro de Sousa Holstein -também membro da Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes -, ao qual, durante o período da regência, D. Fernando II, outorgou o título que ostentava. Encontrando-se, muito provavelmente aqui, o nexo causal do legado da extinta agremiação setubalense ter sido entregue à guarda daquela Aca-demia 4 . Da listagem dos bens depositados constava um "modelo fac simile de gesso, com diversas figuras em relevo, pintado e dourado, imitando uma patera de prata, achada nas ruinas de Cetobriga em 1814, tendo 12 centimetros de diâmetro e 8 de altura", e, adiante, esclareceu que o "fac simile, molde da Taça, já mencionado, foi oferecido pelo presidente da Sociedade o 1.º Duque de Palmella". Sem mais, porque, ao contrário dos demais autores referidos, João Carlos d'Almeida Carvalho conhecia o destino do objecto alvo do presente texto.

De facto, a última menção concreta a esta peça data de 1880, porquanto nos prolixos textos de António Inácio Marques da Costa (1857-1993), publicados n'O Archeologo Português entre 1898 e 1933, não só sobre as ruínas de Tróia, mas revelando uma maior abrangência temática e epocal (Cardoso, 2014, passim), não subsistem quaisquer alusões à taça de prata, pois, o Positivismo emergira nos finais de oitocentos e o 'tesouro' romântico subsumiu-se definitivamente na alvorada do novo século.